A dona que eu am'e tenho por senhor | |||
amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for, | |||
senom dade-mi a morte. | |||
A que tenh'eu por lume destes olhos meus | |||
5 | e por que choram sempr', amostrade-mi-a, Deus, | ||
senom dade-mi a morte. | |||
Essa que vós fezestes melhor parecer | |||
de quantas sei, ai, Deus!, fazede-mi-a veer, | |||
senom dade-mi a morte. | |||
10 | Ai Deus! que mi a fezestes mais ca mim amar, | ||
mostrade-mi-a, u possa com ela falar, | |||
senom dade-mi a morte. | |||
A cantiga possui 4 cobras singulares de 3 palavras cada e refrão monóstico. Pode-se observar dois tipos de rima: a rima oxítona (aguda) nas três primeiras cobras e a rima paroxítona (grave) na última cobra da cantiga.
Em uma abordagem semântica, temos o foco no vocativo "Deus". O vocativo se move durante o poema, evidenciando o aumento do desejo do trovador pela amada na medida que o chamado se torna cada vez mais enfático em cada cobra. Esse chamado é um pedido a Deus para que ele possa ver sua amada ou então que Deus lhe dê a morte.
A cantiga é marcada por "metáforas da visão" nas expressões como "amostrade-mi-a", "mostrade-me-a" e "veer" para que na última cobra ele quebre essa ideia de distanciamento que o olhar traz, desse amor espiritual, Caritas, pedindo para eles se encontrarem em um lugar onde ele possa falar com a amada, ou seja, faz-se aqui a passagem do amor espiritual para o físico, do Caritas para o Eros.
REFERÊNCIAS
Cantigas Medievais Galego-Porguesas. Sobre as Cantigas. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp >. Acesso em 21 set 2016.
FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Aulas ministradas entre os dias 29 de agosto e 20 de setembro de 2016, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora.
FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Aulas ministradas entre os dias 29 de agosto e 20 de setembro de 2016, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora.
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