quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Análise da cantiga de amor de refrão do segrel Bernardo de Bonaval


A dona que eu am'e tenho por senhor

amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for,
       senom dade-mi a morte.
  

A que tenh'eu por lume destes olhos meus
5e por que choram sempr', amostrade-mi-a, Deus,
       senom dade-mi a morte.
  
Essa que vós fezestes melhor parecer

de quantas sei, ai, Deus!, fazede-mi-a veer,
       senom dade-mi a morte.
  

10Ai Deus! que mi a fezestes mais ca mim amar,

mostrade-mi-a, u possa com ela falar,
       senom dade-mi a morte.


A cantiga possui 4 cobras singulares de 3 palavras cada e refrão monóstico. Pode-se observar dois tipos de rima: a rima oxítona (aguda) nas três primeiras cobras e a rima paroxítona (grave) na última cobra da cantiga. 

Em uma abordagem semântica, temos o foco no vocativo "Deus". O vocativo se move durante o poema, evidenciando o aumento do desejo do trovador pela amada na medida que o chamado se torna cada vez mais enfático em cada cobra. Esse chamado é um pedido a Deus para que ele possa ver sua amada ou então que Deus lhe dê a morte.

A cantiga é marcada por "metáforas da visão" nas expressões como "amostrade-mi-a", "mostrade-me-a" e "veer" para que na última cobra ele quebre essa ideia de distanciamento que o olhar traz, desse amor espiritual, Caritas, pedindo para eles se encontrarem em um lugar onde ele possa falar com a amada, ou seja, faz-se aqui a passagem do amor espiritual para o físico, do Caritas para o Eros.

REFERÊNCIAS 

Cantigas Medievais Galego-Porguesas. Sobre as Cantigas. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp >. Acesso em 21 set 2016.

FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Aulas ministradas entre os dias 29 de agosto e 20 de setembro de 2016, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora.

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