A
literatura entre os povos românicos medievais era divulgada pelos trovadores,
jograis e segréis como já mencionamos em outra postagem. Esses compositores,
recitadores, músicos e cantores circulavam entre os castelos, feiras e aldeias
cantando essas poesias que foram reunidas em coletâneas conhecidas por
Cancioneiros.
Essa
literatura oral só é firmada na escrita tardiamente quando a realidade era bem
diversa, perdendo-se, por exemplo, as notações musicais das cantigas. Esses Cancioneiros
não são coleções de poesia nacional, mas reúnem cantigas de diversos autores,
trata-se de uma literatura da Península Ibérica em língua galego ou portuguesa.
Figura 1 - Iluminura Cancioneiro da Ajuda (Nobre,
jogral com cítola, jogral com harpa)
Entre
os três Cancioneiros conhecidos temos:
Cancioneiro
da Ajuda: foi provavelmente compilado ou copiado em fins do século XIII, de
grande interesse por ser um manuscrito da época dos poetas e colaboradores,
sendo valioso pela grafia e por conter iluminuras. Com 310 cantigas, quase todas
são de amor.
Cancioneiro
da Vaticana: cópias realizadas na Itália no século XVI de uma provável compilação
do século XIV. Algumas descobertas recentemente. Com 1205 cantigas separadas em
quatro tipos.
Cancioneiro
da Biblioteca Nacional: o mais completo com 1647 cantigas separadas em quatro
tipos, chamada também de Colloci-Brancutti devido a um colecionador italiano a
quem devemos sua preservação.
Figura 2 - Folio (Nobre,
jogral com cítola, rapariga com pandeiro redondo com soalhas exteriores)
Esse
último Cancioneiro contém um tratado poético do século XIV conhecido como “A arte de trovar” (escolhido como nome do nosso blog), do qual se perdeu o texto
anterior ao capítulo IV, que busca classificar e dar regras para as cantigas. Este
tratado faz uma distinção em três gêneros: cantigas de amigo, cantigas de amor
e cantigas de escárnio e maldizer.
Conforme
Abdala Júnior, podemos classificar essas cantigas quanto ao assunto e quanto à
forma, vejamos:
Cantigas de amigo quanto ao assunto:
-
albas: falam do amanhecer
-
pastorelas: personagem central é uma pastora
-
barcarolas: se referem ao mar ou ao rio
-
bailias: há dança ou baile
-
romaria: se prendem à peregrinação
-
tenções: há diálogo entre a moça e a mãe, a irmã, amiga ou a natureza
Quanto à forma:
-
maestria: não tem refrão
-
refrão: possuem refrão
-
paralelísticas: que têm paralelismo
Cantigas de amor quanto ao assunto:
-
temática pouco variada: enaltecimento da “senhor” (mulher inacessível), o amor
provoca a “coita” (sofrimento).
Quanto
à forma:
-
maestria: sem refrão
-
refrão: possuem refrão
-
desacordo: apresenta variedade métrica que expressa intranquilidade de espírito
Cantigas satíricas:
-
escárnio: utiliza ironia sem dizer a quem se refere
-
maldizer: usa linguagem obscena e diz a quem se dirige
-
canção de seguir: imita outra cantiga de maneira cômica
-
tenção de briga: diálogo entre trovadores em que a resposta de um deve iniciar
com a rima do verso anterior
É importante
salientar que nas cantigas galego-portuguesas, “cobra” é sinônimo de estrofe e “palavra”
é o mesmo que verso.
Referências:
ABDALA JÚNIOR, Benjamim, PASCHOALIN, Maria Aparecida.
História social da literatura portuguesa. São Paulo: Ática, 1985.
FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Apostila
Trovadorismo Medieval. Faculdade de Letras. UFJF. Juiz de Fora, 2016.
SARAIVA,
Antônio José, Lopes, Oscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto,
1987.
Sites:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/iluminura.asp?img=A_171_47, acesso em 24 de setembro de 2016.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cancioneiro.asp?imgc=A_197_60&cdcanc=1 , acesso em 24 de setembro de 2016.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/artedetrovar.asp, acesso em 24 de setembro de 2016.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/artedetrovar.asp, acesso em 24 de setembro de 2016.
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