domingo, 25 de setembro de 2016

As cantigas e algumas peculiaridades

A literatura entre os povos românicos medievais era divulgada pelos trovadores, jograis e segréis como já mencionamos em outra postagem. Esses compositores, recitadores, músicos e cantores circulavam entre os castelos, feiras e aldeias cantando essas poesias que foram reunidas em coletâneas conhecidas por Cancioneiros.  

Essa literatura oral só é firmada na escrita tardiamente quando a realidade era bem diversa, perdendo-se, por exemplo, as notações musicais das cantigas. Esses Cancioneiros não são coleções de poesia nacional, mas reúnem cantigas de diversos autores, trata-se de uma literatura da Península Ibérica em língua galego ou portuguesa.

Figura 1 - Iluminura Cancioneiro da Ajuda (Nobre, jogral com cítola, jogral com harpa)

Entre os três Cancioneiros conhecidos temos:
Cancioneiro da Ajuda: foi provavelmente compilado ou copiado em fins do século XIII, de grande interesse por ser um manuscrito da época dos poetas e colaboradores, sendo valioso pela grafia e por conter iluminuras. Com 310 cantigas, quase todas são de amor.

Cancioneiro da Vaticana: cópias realizadas na Itália no século XVI de uma provável compilação do século XIV. Algumas descobertas recentemente. Com 1205 cantigas separadas em quatro tipos.

Cancioneiro da Biblioteca Nacional: o mais completo com 1647 cantigas separadas em quatro tipos, chamada também de Colloci-Brancutti devido a um colecionador italiano a quem devemos sua preservação.  

Figura 2 - Folio (Nobre, jogral com cítola, rapariga com pandeiro redondo com soalhas exteriores)

Esse último Cancioneiro contém um tratado poético do século XIV conhecido como “A arte de trovar” (escolhido como nome do nosso blog), do qual se perdeu o texto anterior ao capítulo IV, que busca classificar e dar regras para as cantigas. Este tratado faz uma distinção em três gêneros: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer.
Conforme Abdala Júnior, podemos classificar essas cantigas quanto ao assunto e quanto à forma, vejamos:

Cantigas de amigo quanto ao assunto:
- albas: falam do amanhecer
- pastorelas: personagem central é uma pastora
- barcarolas: se referem ao mar ou ao rio
- bailias: há dança ou baile
- romaria: se prendem à peregrinação
- tenções: há diálogo entre a moça e a mãe, a irmã, amiga ou a natureza
 Quanto à forma:
- maestria: não tem refrão
- refrão: possuem refrão
- paralelísticas: que têm paralelismo

Cantigas de amor quanto ao assunto:
- temática pouco variada: enaltecimento da “senhor” (mulher inacessível), o amor provoca a “coita” (sofrimento).
Quanto à forma:
- maestria: sem refrão
- refrão: possuem refrão
- desacordo: apresenta variedade métrica que expressa intranquilidade de espírito

Cantigas satíricas:
- escárnio: utiliza ironia sem dizer a quem se refere
- maldizer: usa linguagem obscena e diz a quem se dirige
- canção de seguir: imita outra cantiga de maneira cômica
- tenção de briga: diálogo entre trovadores em que a resposta de um deve iniciar com a rima do verso anterior
É importante salientar que nas cantigas galego-portuguesas, “cobra” é sinônimo de estrofe e “palavra” é o mesmo que verso.

Referências:
ABDALA JÚNIOR, Benjamim, PASCHOALIN, Maria Aparecida. História social da literatura portuguesa. São Paulo: Ática, 1985.
FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Apostila Trovadorismo Medieval. Faculdade de Letras. UFJF. Juiz de Fora, 2016.
SARAIVA, Antônio José, Lopes, Oscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto, 1987.
Sites:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/iluminura.asp?img=A_171_47, acesso em 24 de setembro de 2016.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cancioneiro.asp?imgc=A_197_60&cdcanc=1, acesso em 24 de setembro de 2016.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/artedetrovar.aspacesso em 24 de setembro de 2016.


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