domingo, 25 de setembro de 2016

Um exemplo de cantiga de amor

Vejamos esta cantiga de amor do trovador português João Garcia de Guilhade, que diz que seus olhos ficam cegos de tanto chorar por não ver sua amada e ficam também cegos quando a veem.

Estes meus olhos nunca perderám,
senhor, gram coita, mentr'eu vivo for;

e direi-vos, fremosa mia senhor,

destes meus olhos a coita que ham:
       choram e cegam, quand'alguém nom veem,
       e ora cegam por alguém que veem.

Guisado têm de nunca perder
meus olhos coita e meu coraçom,
e estas coitas, senhor, mĩas som:
mais los meus olhos, por alguém veer,
       choram e cegam, quand'alguém nom veem,
       e ora cegam por alguém que veem.

E nunca já poderei haver bem,
pois que Amor já nom quer nem quer Deus;
mais os cativos destes olhos meus
morrerám sempre por veer alguém:
       choram e cegam, quand'alguém nom veem,
       e ora cegam por alguém que veem.


mentre: enquanto
guisado: preparado
coita: sofrimento
cativo: infeliz

Nesta cantiga temos 3 cobras (estrofes) com 6 palavras (versos). É uma cantiga de refrão e paralelística.
As cantigas de amor tiveram forte influência das cantigas provençais, chamadas também de cansó, que retratava um amor que visa a um tipo idealizado de mulher, uma aspiração sem correspondência.
Veja abaixo uma recriação moderna desta cantiga em vídeo.


Para conhecer mais cantigas acesse o site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. 

Referências:
FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Aulas ministradas entre os dias 29 de agosto e 20 de setembro de 2016, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora.
SARAIVA, Antônio José, Lopes, Oscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto, 1987.
Site:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=404&pv=sim, acesso em 25 de setembro de 2016.

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