sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cantigas de Amigo

As cantigas de amigo foram escritas a partir de um "eu" feminino e cantavam a realidade da mulher, em especial de um ponto de vista emocional.

Inspiradas na vida popular das zonas rurais, tinham a mulher como personagem principal de uma ação - não se limitava a um desabafo emocional - o que tornava a narração mais verossímil.

Abordava uma variedade de assuntos, como encontros com amigos ou namorados, diálogos familiares da mulher com a mãe ou a irmã, integrados a elementos da natureza.

Quanto à forma, algumas vezes usava paralelismos e refrões; outras, a maestria. O ritmo podia ser ditado por um par de dísticos, sugerindo a técnica da composição ligada ao canto e à dança. Estes conceitos serão mais explicados em outra postagem.

Um belo exemplo de cantiga de amor, escrita por D. Dinis - o rei trovador - é 

 Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
 Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?

- Vós me preguntades polo voss’amigo
e eu bem vos digo que é san’e vivo
Ai Deus, e u é?

- E eu bem vos digo que é san’e vivo
e será vosco ant’o prazo saído
Ai Deus, e u é?

- E eu bem vos digo que é viv’e sano
e será vosc[o] ant’o prazo passado
Ai Deus, e u é?

Esta, que provavelmente é a cantiga de amigo mais conhecida de D. Dinis, mostra uma donzela aflita por seu amado que não chega conversando com as flores (estas, respondendo). Aqui está bem caracterizado o dístico: duas estrofes de dois versos, sendo o último verso repetido como o primeiro da estrofe seguinte.

O vídeo acima mostra uma versão musicada desta trova.

REFERÊNCIAS: 

ABDALA JÚNIOR, Benjamin; PASCHOALIN, Maria Aparecida. História social da literatura portuguesa. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1985.

LOPES, Graça Videira; FERREIRA, Manuel Pedro et al. Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FSCH/NOVA. Disponível em <http://cantigas.fsch.unl.pt/> Acesso em 02 set 2016

VIDEO. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=55tM6Vag2sA> Acesso em 02 set 2016

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