sábado, 17 de setembro de 2016

A diferença entre Trovadores, Jograis e Segréis

Quando as cantigas trovadorescas estavam em voga, havia três grupos principais que as interpretavam e as compunham: os trovadores, os jograis e os segréis. A distinção entre as três categorias é bastante artificial e basicamente se referiam a teores econômicos:

  • Trovador: trovadores eram, em usa maioria, senhores da nobreza ibérica que compunham e executavam cantigas trovadorescas. Alguns autores dizem que os dessa categoria apenas exerciam o trovadorismo como uma atividade desinteressada, como um lazer, portanto, não recebiam nada por isso. Podiam ser, além de autores de suas próprias canções, mecenas de outros trovadores.
    Eles foram os responsáveis pela maior parte das Canções de Amor conhecidas.

  • Jogral: "jogral" é um termo muito mais antigo do que “trovador”. Vem do adjetivo latino iocularis que significa “risível”, “ridículo”. Anteriormente, antes mesmo do século XII, século em que se considera o início do Trovadorismo, esse termo era usado para designar, de  forma ampla, pessoas que divertiam festas e eventos com músicas, charlatanices, acrobacias, mimicas e etc. Porém, no Trovadorismo, "jogral" seria usado para se referir à pessoas de classes mais baixas que, principalmente, executavam as cantigas que os trovadores compunham. Isso não quer dizer, contudo, que não compunham suas próprias canções. Os jograis executavam essas canções tanto em público quanto para nobres como uma atividade monetária. 
    Dos jograis de corte renderam ricas Cantigas de Sátira, já que esses desfrutavam de uma vida boemia junto as cortes ibéricas.

  • Segrel: A diferenciação entre segréis e jograis não é muito clara, porém, acredita-se que esse poderia ser um termo para designar músicos mais bem sucedidos que os jograis, fidalgos, que andavam a cavalo e viajavam de cidades em cidades para apresentar sua arte.

Como dito, a distinção entre os grupos é meio artificial e até ambígua às vezes. Isso pode se remeter a origem dessas diferenciações que, por sua vez, foram engendradas pelos próprios nobres. Ao quererem se diferenciar dos demais se entitularam “trovadores”, enquanto os músicos/poetas de outras classes sociais deveriam ser postos na categoria de jograis.
Em uma cantiga de Martim Soares e Paio Soares de Taveirós há uma ilustração desse fato. Nela os dois trovadores debatem se podem elevar um serviçal que não quer servir, não sabe falar e nem cantar ao grau de jogral:

[sem título]

- Ai, Pai Soárez, venho-vos rogar
por um meu homem que nom quer servir,
que o façamos, mi e vós, jograr,
em guisa que possa per i guarir;
pero será-nos grave de fazer,
ca el nom sabe cantar nem dizer
rem, per que se pague del quen'o vir.

- Martim Soárez, nom poss'eu osmar
que no-l'as gentes queiram consentir
de nós tal homem fazermos poiar
em jograria; ca, u for pedir,
algu[é]m ve[e]rá-o vilam se[e]r,
trist'e [no]joso e torp'e sem saber,
e haver-s'-á de nós e del riir.

- Paai Soárez, o hom'é de seu
trist'e nojoso e torp'e sem mester;
pero faremos nós de[l], cuido-m'eu,
jograr, se ende voss'ajuda houver;
ca lhe daredes vós esse saiom,
e porrei-lh'eu nome jograr "Sisom";
e com tal nome gualrá per u quer.

- Martim Soárez, a mi [nom m']é greu
de lh'o saiom dar; e, pois que lho der,
nom diga el que lho nulh'homem deu;
e, se o el per ventura disser,
mui bem sei eu o que lhe dirám entom:
"Confunda Deus quem te deu esse dom,
nem quem te fezo jograr nem segrer!"

- Paai Soárez, tenho por razom
de poiar já o vilaão grodom
[e] des i, posface del quem quiser.



REFERÊNCIAS

BARROS, José D’Assunção. A Arena dos Trovadores. Niterói: UFF, 1995, dissertação de mestrado.

BARROS, José D’Assunção. Os trovadores Medievais e o Amor Cortês. Niterói: UFF, 2008.

SOARES, Martim; TAVEIRÓS, Paio Soares de. Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FSCH/NOVA. Disponível em <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=115&pv=sim> Acesso em 17 set 2016.

Cantigas Medievais Galego-Porguesas. Sobre as Cantigas. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp >. Acesso em 17 set 2016.

Um comentário: